sexta-feira, abril 07, 2006

Finalmente, o fim.

Hera anunciava com estampidos e trovoadas. Enfim a casa real partira. Vinha em nossa direção. Arcanjos de todas as formas e cores, de mãos dadas. Formavam uma corrente estupidamente grande. Dançavam ao som de blues. E o fim finalmente, havia chegado.
Dia 28 de Março. Que merda! Tive que ouvir essa cambada de campista bairrista se vangloriar... Acharam que o dia foi escolhido em homenagem a cidade. Até que por um lado tiveram um pouco de razão... Foi a primeira cidade a sucumbir. As pessoas quebravam-se ao meio, em grupos de dez. Não podia ficar olhando e esperando a minha vez sem fazer nada. Pensei em fugir, ir pro Rio de Janeiro. Dizem que lá é abençoado por Deus. Talvez fosse a última cidade a sumir do mapa. Sei lá, deu preguiça. Não queria correr. Assim resolvi me preparar. Não queria morrer no meio da rua indo pro trabalho. Fui em casa, escolhi uma camisa limpa, dinheiro e fui pro meu boteco favorito. Pelo menos morreria tomando cerveja!
Ao encher o copo, me peguei fazendo o ritual de sempre: pingar um pouco pros santos. Hesitei.
- Hoje é o fim, não vou fazer isso. Quero beber tudo até a última gota!
Quando virei o copo, olhei pro lado esquerdo. Exu me pediu um cigarro. Hoje era feriado, não era preciso trabalhar. Oxoce me abraçou. Disse que de hoje eu não passava. Enfiou a mão dentro da minha calça.
- Merda! Pensei. Tudo isso por causa de um pouco de cerveja!
Gozei. O garçom quebrou-se na minha frente. Vi meu fim. Olhei para aquela cidade de merda. Todos uns otários, todos! Acreditavam na vida eterna, mas não sabiam que todo campista estava fadado a morrer naquele dia. Não sobraria um. Ta na bíblia, eu escrevi.
Também vou morrer, nasci aqui – por acaso – mas nasci.
Aí foi meu engano. Janaína, minha Iemanjá usou nanquim. Fez um asterisco.
- Menos você seu bêbado de merda!
Ela me amava. Desde o dia que roubei 50 oferendas do mar.
Fui pra casa. Liguei o computador, precisava de notícias. Nada, ninguém disse nada. Campos sumiu como escrito por mim e não entrou pra história. Como sou profético! Finalmente fiz algo por esta cidade.
Com todo o prazer, peguei minha carteira de identidade e risquei o nome dali. No lugar escrevi: Origem, Terra do nunca.


Danielle Brandão